Anchieta, Distrito Grajaú, Subprefeitura Capela do Socorro

A liderança Dona Jô se declarou mulher, parda e afirmou trabalhar como auxiliar administrativo. Trabalha na associação local como secretária. Vive na Ocupação Anchieta há 07 anos, atuando no movimento pelo mesmo período. Informou que o serviço da Sabesp na ocupação é interrompido todos os dias, às 20h. 

“Cheguei aqui em 2013, logo no início da ocupação, né. Eu vim porque eu não conseguia mais pagar aluguel… aí fiquei sabendo dessa ocupação aqui, na região do Grajaú e me interessei por ela, né.”

“Porque a gente não tinha uma água limpa para oferecer… nós estávamos bebendo uma água suja, contaminada, clandestina, né. Que vem pelas mangueiras… e muitas delas são furadas, acabam misturando com a água do esgoto”

“Eu cheguei aqui pelo um despejo né… E aí eu fiquei sem saber para onde ir. E através de um amigo, ele me trouxe pra ocupação… Eu cheguei peguei um pedaço de terra e fiz um barraco para morar, onde moro até hoje.”

“Porque aqui quando a gente usava água de mangueira… Onde as mangueiras furavam muito se misturava com água do esgoto… Pra nós já ofendia, né. Imagina as crianças.”

O morador Marcos possui 44 anos, se declarou homem, pardo, solteiro e motorista desempregado. Nasceu em Passira, Pernambuco. Chegou a São Paulo em 2011. Após ser despejado de sua casa anterior, em outra parte da cidade. Seguiu para a ocupação em busca de uma moradia. Atualmente sua casa está ligada à rede da Sabesp.

A moradora Joyce se declarou mulher, tem 28 anos, é parda, solteira e dona do lar. É natural de São Paulo e chegou na Ocupação há seis anos. Sua casa possui tubulações conectadas à rede da Sabesp, mas ainda é obrigada a fazer uso de galões para armazenamento. Não possui esgotamento sanitário. 

“Já tem seis anos que eu tô aqui. Minha família já morava aqui. E aí, devido a eles morar aqui decidi pegar um pedaço de terreno.”

“Foi graças à associação. A Associação correu atrás pra procurar saber sobre a Sabesp. Pra colocar a rede de água.”

A ocupação Anchieta está localizada no distrito do Grajaú, na região Sul do município de São Paulo. A área começou a ser ocupada a partir da década de 2010. Hoje, residem na comunidade aproximadamente cinco mil habitantes organizados em 1.050 casas. 

Em termos de infraestrutura, a maioria das casas é construída com madeira e/ou material improvisado e metade dessas moradias possui ligação à rede pública de água da Sabesp. Ao todo são 540 ligações, restando 500 moradias. O abastecimento de água é interrompido diariamente na ocupação, sempre à noite. Por outro lado, todos os entrevistados responderam possuir encanamento na moradia, para uso no banheiro, torneiras e pias na cozinha. 

Os principais problemas são a falta de ligação da rede em metade das casas da ocupação e não há redes de esgoto pública na comunidade. Os resíduos são canalizados por tubulações improvisadas que servem para afastar os detritos de frente das casas e das ruas da comunidade. Nas áreas da ocupação sem abastecimento, mangueiras compartilham o mesmo espaço que pequenas valas de esgoto. Além disso, por conta da pandemia, o atendimento da Sabesp foi paralisado.

A principal estratégia para garantir água é a instalação de “gatos” na rede pública. Os moradores construíram de forma coletiva linhas de água alternativas. Em parte da ocupação existe um sistema comunitário de bombas hidráulicas, pequenos dutos e mangueiras para distribuição entre as casas sem cobertura de saneamento. Aqueles que possuem rede informaram pagar pela conta de água, sob o sistema de tarifa social. Durante a pandemia, no entanto, a cobrança foi suspensa pela Sabesp, com uma carência de três meses.

Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre