Chácara do Conde, Distrito Grajaú, Subprefeitura Capela do Socorro

Dona Luciana tem 32 anos, solteira, parda, trabalha como orientadora e colabora com os trabalhos da comunidade. De Itapecerica, ela mora na comunidade há 24 anos, quando sua avó a levava para lá. Hoje, ela mora sozinha e paga aluguel. Define o serviço de abastecimento de água como bom e não sofre com interrompimento no abastecimento de água, apesar de relatar ter problema com saneamento básico.

“Com relação a água não tenho nada a acrescentar. Mas se perguntar sobre saneamento básico eu tenho a te dizer.” 

“(…) como eu moro sozinha, eu não senti essa diferença. Mas minha avó, como não mora sozinha, ela sentiu essa diferença. Porque mora ela e mais três pessoas. E faltou entendeu.” 

“(…)  Teve aumento de água, eles falam que é vazamento e quando a gente vai ver não é vazamento. Isso aconteceu no momento da pandemia.”

Eles  parcelam. Mas é difícil pagar a parcela e a conta junto. Ainda mais quando a pessoa tá desempregada.

Dona Inês tem 31 anos, solteira, parda, trabalha como secretária e colabora com os trabalhos na comunidade. Natural de São Paulo, mora na comunidade desde seus 3 anos de idade e hoje vive com mais 7 pessoas na sua casa. Comentou que lava roupa pelas manhãs, que é quando a água chega. Não tem o que reclamar sobre o abastecimento de água, somente sobre o valor da conta.

Dona Cleide tem 23 anos, solteira, negra, trabalha como monitora de transporte escolar e também colabora com os trabalhos na comunidade. Ela mora com mais três pessoas e conheceu a comunidade pelos trabalhos de sua avó. Por existir uma rede já estabelecida, não tem problemas por falta de água, mas tem que pagar conta de água, que por falta de dinheiro as vezes fica atrasada.

Recebi cesta básica, kit de higiene, máscara, álcool gel também.”

“O acesso à água está ok. Agora eu achei um abuso com relação a Sabesp, porque em plena pandemia, na qual a comunidade estava fechada. Nós não estávamos usando tanta água assim. Há três meses atrás começaram a vir umas contas abusivas. De 150 reais passou a vir uma conta de 1700 reais na qual eu reclamei e no mês seguinte veio 7000 reais.”

“Aí veio a fiscalização da Sabesp que não sabia o que estava acontecendo, cortou o abastecimento da associação e mesmo com a água cortada, no mês seguinte veio o triplo disso dá. Uns 15.000 reais de conta de água. Não tem explicação.”

“Antes eles diziam que estava com vazamento, mas com o valor desta conta, se tivesse vazamento estaria tudo alagado. Todo mês vem mais alto o valor, mesmo com a água cortada.”

Liderança, Dona Norma, mulher negra, de 61 anos, educadora, participa de movimentos de moradia há 29 anos. Participou da construção da comunidade desde o início, quando assinaram um convênio junto com o Fundo Funaps Comunitário para construção de casas e da infraestrutura. Para D. Norma, o maior problema não é a falta de infraestrutura e de abastecimento de água formal, mas sim o valor da conta da água e a dificuldade dos moradores em pagarem pelo serviço. Não houve ações da Sabesp ou da Prefeitura para resolução do problema. 

O loteamento da Chácara do Conde-Fase I, é uma comunidade antiga e consolidada, que se constituiu em 1991, quando foi assinado um convênio com o Programa Fundo Funaps Comunitário da Prefeitura de São Paulo para a construção das casas e a implementação de infraestrutura pública. Hoje a Chácara do Conde possui 820 lotes regularizados, distribuídos em aproximadamente 1000 moradias, todas elas construídas em alvenaria, com uma população aproximada de 2400 pessoas. 

A infraestrutura para abastecimento de água e coleta de esgoto estão presentes na comunidade como um todo e foram oficializadas pela Sabesp. Igualmente, parte desta infraestrutura provavelmente foi financiada pelos moradores, uma vez que no início da luta, a construção das redes foi construída por eles. Praticamente todos os moradores possuem em suas casas uma caixa d’água, que varia em volume entre 500 a 1000 litros. Todas as torneiras de água da casa são abastecidas pelas caixas de água.  

As habitações de todos os entrevistados possuem banheiro dentro das casas, com pia, vaso sanitário, e chuveiro, sem a necessidade de tomar banho com canequinha e balde.  Entre os problemas relatados com relação ao abastecimento de água estão a intermitência do abastecimento, a ponta de não ser possível manter as caixas de água abastecidas e a dificuldade em pagar as contas da água. 

Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre