Cartografias do acesso à água em moradias precárias na pandemia da Covid-19

O objetivo geral do projeto foi compreender e dar visibilidade aos problemas de acesso e falta d’água em comunidades de baixa renda, nas diferentes regiões da cidade, e como esses problemas podem agravar os riscos sanitários vividos pelas pessoas, especialmente no momento da pandemia da Covid-19.

A pesquisa foi realizada em duas etapas:

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respostas
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municípios da RMSP

Etapa 1

Na Etapa 1 foi divulgado um  Questionário sobre acesso à água junto às lideranças e moradores das comunidades, pela internet.

Veja os destaques dos principais resultados e acesse o mapa interativo para ver os dados na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

Das 591 pessoas que responderam o questionário (e residem na RMSP),
residem no município de São Paulo 93%

Outros municípios que apresentaram respostas foram: Carapicuíba, Diadema, Embu das Artes, Guarulhos, Itapecerica da Serra, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo do Campo.

Na RMSP, do total de respostas
indicaram algum problema no acesso à água 69%

Também no município de São Paulo, do total de respostas, 71,4% indicaram algum tipo de problema de acesso à água.

Durante a pandemia, de acordo com as respostas dos moradores, a percepção sobre o acesso à água não mudou na RMSP (dados coletados até junho de 2020). Do total de 591 respostas, as pessoas indicaram que durante a pandemia o acesso à água:

Os problemas de acesso à água são diversos e expressam que a falta d’água é vivenciada por diferentes motivos.

Onde a ocupação é recente, não há urbanização nem redes públicas de abastecimento de água, os moradores adotam diferentes soluções, como ligações alternativas e armazenamento de água em galões. Nessas áreas, a falta d’água é bastante frequente.

Mas, mesmo nas áreas urbanizadas, onde há redes públicas, as moradias que não possuem caixa d’água podem ficar muitas horas da noite ou do dia sem “água da rua” (devido ao problema de intermitência da rede, ou redução de pressão).

Também entendemos como problemas de acesso à água as dificuldades financeiras da família para pagamento de tarifa, a necessidade de usar água “emprestada de vizinhos ou parentes” e a necessidade de comprar água para beber ou cozinhar. Ver com mais detalhes em “Histórias de falta d’água”.

Esses problemas contrastam com os dados de 99,3% (SNIS/2018) de população atendida por rede de abastecimento de água no município de São Paulo, mostrando que os problemas de falta d’água vão além de uma ampla cobertura de rede de abastecimento.

As entrevistas com moradores mostraram que, independentemente da região da cidade, ou do tipo e localização da moradia (se está em favela, ocupação de edifício ou em jovens ocupações de terra) a população passa por diferentes problemas de acesso e falta d’água. Esses problemas se somam a outros decorrentes da desigualdade social e urbana, como a luta por moradia, a busca por trabalho e renda e o acesso à serviços de saúde.

O problema de acesso à água não se restringe à falta de infraestrutura, mas se relaciona também com as condições financeiras para pagar pelo serviço.

Mesmo com a presença da rede pública e de caixas d’água na moradia, a falta de água ocorre em função de um abastecimento intermitente.

O impacto das dificuldades do acesso à água no cotidiano das famílias é muito grande: em relação às práticas do dia a dia, diversas atividades como tomar banho, lavar roupa e limpar a casa ficam na dependência da disponibilidade de água; a compra de água, o investimento em redes de abastecimento  ou os valores de tarifas comprometem a renda das famílias; e ainda pode gerar problemas de saúde e conflitos dentro da comunidade.

Diante dos problemas de acesso à água, os moradores e coletivos de moradores desenvolvem inúmeras práticas diárias, desde a implantação de soluções autoconstruídas para abastecimento, ações de solidariedade, à reivindicações por saneamento e urbanização junto ao poder público.

Por outro lado, percebemos que esses problemas de falta d’água fazem parte do cotidiano e, em muitos casos, acabam não sendo reconhecidos como problemas, como violação de direitos, ou são questionados pelos próprios moradores.

Na segunda etapa do projeto buscamos identificar também quais ações o governo do Estado de São Paulo, principalmente a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), e a Prefeitura de São Paulo estavam realizando para melhorar o acesso à água nas comunidades.

Para isso, trabalhamos com levantamento de notícias na mídia, nos sites desses órgãos públicos e analisamos as informações de uma Ação Civil Pública que o Ministério Público Estadual moveu em face à Sabesp, cobrando ações nesse sentido durante a pandemia. O resultado desse estudo pode ser acessado no Relatório da pesquisa.

Com esse levantamento, foi possível identificar algumas ações de distribuição de caixa d’água em algumas comunidades mais mobilizadas, a instalação de lavatórios públicos e a higienização de ruas feitas pela Sabesp.

Tais ações foram pontuais e desarticuladas de um plano de abastecimento emergencial mais amplo, voltado para os territórios populares onde se concentram os problemas de saneamento.

As ações responderam às reivindicações iniciais, mas perderam força ao longo dos meses, não apresentando uma continuidade.