Terra Prometida, Distrito Aricanduva, Subprefeitura de Aricanduva.
Dona Raquel tem 33 anos, casada, parda, desempregada. Alagoana, chegou em São Paulo com 31 anos e mora na comunidade há 3 anos, pois não conseguia pagar mais seu aluguel. Ela mora com 4 pessoas. Sua casa ainda não está ligada à rede de esgoto. Apesar de possuir uma caixa d´água de 150 litros, quando falta água vai buscar na bica. Após a instalação da caixa dá água na sua casa, não precisou mais tomar banho de balde e canequinha.
“Gostaria que os órgãos públicos passassem a nos ouvir e que permitisse que a gente pudesse pagar água e luz dignamente.”
“Fizemos uma rede de água por nossa conta mesmo. E de luz também.”
“Antes, quando nós estava sem água aqui, nós ia ali na bica, na pracinha. Nós levava balde de água e garrafa. Pra fazer comida, pra tomar banho, lavar roupa. Hoje a água chega pelos canos.”
Dona Ziona tem 32 anos, solteira, parda, trabalha como diarista. Natural de São Paulo, mora na comunidade há 4 anos com mais 5 pessoas. Devido ao desemprego, não tinha mais condições de pagar o aluguel. Conheceu a ocupação pois seu irmão já morava nela. Quando falta água na sua casa, pede emprestado para a vizinha dois ou três baldes, pois não tem caixa d´água em casa. Lava sua roupa de madrugada pois a água sai mais forte.
Dona Maria, 40 anos, solteira, negra, trabalha como fiscal da associação, além de ser dona do lar. Nascida e criada em São Paulo, ela mora na ocupação há 2 anos e vive com mais 9 pessoas. Chegou na Terra Prometida porque ficou desempregada e não tinha mais condições de pagar aluguel. Sua casa não possui caixa d´água e quando falta água utiliza garrafas e baldes para armazenar água que coleta da bica. Toma banho de chuveiro quando tem água, quando não tem, busca água na bica, esquenta e toma banho de balde e canequinha.
“Essa água é irregular, mas eu não sei de onde vem. Mas é da rede pública.”
“Nós puxamos para dentro de casa. Moradores que fizeram.”
“Todo dia de noite nunca tem água”.
“De vez em quando eu compro água pras criança beber.”
“Quando zera de água gente, zera sem ficar sem um pingo de água mesmo na torneira assim.”
“Desde que nós existimos como ser humano, a água é uma demanda nossa, enquanto ser humano. Demanda de dignidade humana na verdade.”
“Ninguém sobrevive sem esse acesso.”
“E um pouco antes da pandemia também, a gente já tinha um problema de água.”
Liderança, Dona Joana, mulher negra, de 36 anos, assistente social, participa da associação há 4 anos e trabalha na articulação política auxiliando os moradores a se organizarem na articulação política. Explica que na ocupação o acesso à infraestrutura é informal, apesar de terem realizado o pedido de água para a Sabesp. Todas as redes foram autoconstruídas e a maioria das casas não possui caixa d´água. Acredita que a água é uma das principais demandas, assim como a moradia, na luta pelos direitos humanos. Que a água e esgoto são fundamentais para a saúde e, portanto, têm reivindicado a regularização da infraestrutura. Por serem uma ocupação, não houve ações da Sabesp ou da Prefeitura para garantir o acesso à água por todos.
A ocupação Terra Prometida é uma jovem ocupação que existe há aproximadamente 4 anos e que está localizada dentro da Subprefeitura de Aricanduva, no distrito de Aricanduva. Foi criada de forma voluntária por pessoas que naquele momento estavam sendo despejadas de suas casas e não tinham para onde ir. Hoje é uma comunidade com aproximadamente 300 domicílios e 1200 pessoas, com 60% das casas construídas em alvenaria e os 40% restantes ainda em barracos de madeira. A comunidade foi construída em três etapas. A primeira etapa e a mais antiga, engloba as vielas 1 e 2 e são as duas ruas principais. A segunda etapa é a chamada “Morumbizinho”, por todas as casas serem de alvenaria e a terceira etapa é a mais recente.
A infraestrutura na ocupação Terra Prometida é toda provida informalmente. Todas as redes, conexões e caixas de inspeção de água, esgoto e luz foram feitas por “gatos”, pelos moradores. Todas construções e redes, tanto das moradias como de infraestrutura, foram autoconstruídas e ligadas na rede pública do bairro. A maioria das casas não possui caixa d´água, portanto, quando falta água na rede, armazenam suas águas em garrafas ou em baldes e galões trazidos de uma bica localizada do outro lado da comunidade. Todas as respondentes confirmaram possuir banheiro completo com chuveiro, pia e vaso sanitário dentro das suas moradias, mas quando falta água a solução é o balde e a canequinha.
Para garantir água em casa, as moradoras relatam sobre a solidariedade entre os vizinhos nos momentos de falta d’água. Lavar a roupa em horários e dias estratégicos, comprar galões de água potável para beber, principalmente para cozinhar e para as crianças, ir buscar água na bica com garrafões e pegar água emprestada com vizinho que possui caixa d´água são algumas das estratégias que os moradores utilizam.
Os principais problemas hoje na ocupação relacionados à água são a sua intermitência, o volume disponível e a diferença de pressão com que ela chega. A falta de auxílio público na implementação de uma rede segura que garanta o saneamento básico e o acesso universal à água para a população está na raiz do problema.
Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre