Vila Itaim, Distrito Jardim Helena, Subprefeitura São Miguel Paulista

Liderança Carlos, tem 46 anos, negro, trabalha como professor. Vive na comunidade desde que nasceu e atua como liderança desde que “se entende por gente”. Seu envolvimento com o movimento ocorreu por meio do Movimento das Comunidades Eclesiais de Base, na época final da ditadura e começo do processo de redemocratização. 

“Nós sempre temos que buscar a melhoria, por mais que hoje a comunidade esteja um pouco mais estruturada, sempre há algo para fazer.”

“Porque é assim, quando eu morava lá em cima, eu pensei que aqui fosse igual lá em cima e não faltava água. Aí fiquei sabendo pela minha comadre “Quando você mudar para lá você vai precisar de uma bomba!”, mas para que serve isso? Eu nem sei para que servia. E ela “É bomba para puxar água, porque se você não tiver essa bomba, você nunca vai ter água”.

Moradora Bárbara, tem 34 anos, parda, trabalha em casa e mora com o marido e mais 3 crianças. Nasceu em São Paulo, SP, mudou-se há 3 anos para a Vila Itaim por contato de amigos do marido. Sua casa não tem caixa d’água e assim utiliza tambores para armazenar água. Ela traz os baldes, liga a bomba, conecta a mangueira e coloca no tambor, depois joga a mangueira pela janela da casa. O chuveiro tem água corrente, mas não tem água na pia da cozinha e na pia do banheiro. Toma banho de balde e canequinha. Sempre pega água emprestada. Lava roupa no tanquinho segundas feiras às 8 horas, passa a madrugada pegando água, deixa tudo cheio e nem dorme mais. 

Moradora Silvia, tem 60 anos, branca com origem indígena, solteira, trabalhava antes como enfermeira e mora com mais dois filhos. Mora na região há mais de 30 anos, foi mudando de casa dentro da própria comunidade e há quase 20 anos é umas das lideranças fortes na área do Pantanal. Tem uma caixa d’água de 500 litros, mas nenhuma torneira é abastecida por ela. Seu banheiro é dentro da moradia, mas não tem água corrente. Tem a pia, mas a água não chega. Lava a roupa no tanquinho, mas só quando consegue água. Toma banho de canequinha porque não tem chuveiro. Sempre pega água emprestada com os vizinhos, mas não empresta, porque se ela mesmo não tem pra ela, como que vai emprestar? Compra água para beber, gasto que já chegou a ser R$80,00 por mês, dinheiro que poderia comprar remédios. Prefere pagar a conta de água do que viver assim.

“Fica meio difícil, porque a gente não tem como dizer para vocês que dia que chegou água, por exemplo, tem uma semana que eu não tenho água. Eu consigo pegar 1 balde d’água no cano de água.”

Sobre a Sabesp ter feito alguma ação para garantir água na pandemia, relata: “Nem chegaram aqui, nem perguntaram se a gente estava passando dificuldade ou não. Nós que brigamos com eles.”  

Moradora Rebeca, nascida em São Paulo, SP, tem 47 anos, branca, divorciada e mora em 6 pessoas. É uma das lideranças fortes na comunidade, trabalha sozinha como representante de bairro, quase um faz tudo. Chegou na Vila Itaim há 20 anos, quando comprou a casa que mora e saiu do aluguel. Pagou pela ligação de água que puxa pela bomba, uma luta dela com lideranças antigas em 2005. Sua moradia tem uma caixa d’água de 1000 litros, todas as torneiras são ligadas a ela, mas ainda é pouco. Mesmo com toda a infraestrutura, compra água para beber.

A comunidade Vila Itaim está localizada no extremo leste do município de São Paulo. Existe há mais de 70 anos e hoje vivem nela aproximadamente 60 mil pessoas distribuídas em 8 mil moradias. Localizada às margens do Rio Tietê, na área de várzea da bacia principal, na divisa com Guarulhos, sua área engloba diversas favelas e loteamentos, com casas de de alvenaria até casas de palafitas e que foram construídas aos poucos, durante os anos. A comunidade ainda está em expansão e sofre com constantes enchentes.

A água se tornou uma reivindicação na década de 1980, quando os poços utilizados para o abastecimento já não eram suficientes e estavam poluídos em função do rio Tietê. Atualmente o abastecimento de água nas moradias é feito por meio de ligação informal a partir da rede pública, puxada por bombas e distribuída por mangueiras. Essa infraestrutura só foi possível com a luta de lideranças antigas e união dos moradores que, em 2005, compraram os canos, as bombas e alugaram as máquinas para abrirem as ruas.

Mesmo nas casas que possuem encanamento e caixa d’água e são abastecidas de forma regular, há falta de água. Já as moradias que não têm caixa d’água, contam com a infraestrutura de tambores, baldes, bombas e mangueiras. Quando falta água, os moradores emprestam entre si.

Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre