Jardim Wilma Flor, Distrito Cidade Tiradentes, Subprefeitura Cidade Tiradentes

A líder comunitária Dona Elma tem 64 anos, se declarou mulher, negra e assistente social. Não é nascida em São Paulo, mas mora no Conjunto Casa Branca, no Jd. Wilma Flor, há 34 anos. Desde nova já atuava politicamente em grupos de jovens da igreja católica. Na cidade de São Paulo, realiza trabalhos comunitários há 28 anos. Acredita que o tempo de existência e a prática do mutirão são as razões que garantiram alguma infraestrutura de saneamento para sua comunidade.

“Eu comecei a me envolver quando eu tinha mais ou menos 15 anos, na igreja católica. De lá pra cá não consegui parar mais. Agora aqui, em São Paulo, a gente começou mesmo na área de habitação por falta de moradia mesmo, né. Pagar aluguel é insustentável pra gente”.

“A comunidade onde eu moro foi construída em regime de mutirão, nós temos água encanada. Diferente da comunidade do Rubino, a comunidade Vista Alegre, a comunidade Wilma Flor, e várias outras favelas aqui na Cidade Tiradentes.”

“Ah, às vezes lá em cima o pessoal fecha a água, aí falta e a gente fica sem saber, né”.  

“A gente que tem criança de 3 a 4 meses, faltar água não é muito bom para quem tem criança. Principalmente quando quer beber, quer tomar banho, né. Quando tá muito quente e o filho chega para você e fala ah, mãe, tá muito calor. E você vai dizer para ele ah, filho como que eu posso dar banho em você se a água tá pouca? É muito ruim.”

A moradora Roberta tem 29 anos, é mulher negra, solteira e trabalha como diarista. Nascida em Iguaí, na Bahia, chegou em São Paulo há 10 anos. Há cinco vive na ocupação da Estrada Manoel de Oliveira Ramos, no Jardim Wilma Flor. A ida para a ocupação foi incentivada principalmente pela dificuldade em pagar o aluguel. Todos os dias utiliza-se de baldes para trazer água para dentro de casa. 

A moradora Ana Cláudia tem 36 anos, é mulher, branca, do lar e solteira. Nascida em São Paulo, vive desde então no Jardim Wilma Flor. Porém, há oito anos teve que se mudar para a casa de seus pais para deixar de pagar aluguel. Como não tem acesso à água, a família, em dias de chuva, utiliza-se de uma caixa d´água antiga como reservatório improvisado. Ou então, ao longo dia, quando as mangueiras conseguem captar alguma água da ligação alternativa na rede pública. 

“É simplesmente um cano de 500 metros que a gente pega da outra rua para vir água pra gente. Isso quando eles não queimam a mangueira, que os moradores mesmo compraram. Sem isso a gente fica sem água”.

“Rede de esgoto?! Ah moça, nem caminhão de lixo passa lá perto de casa (…). Não tem tubulação e rede de esgoto feita. Na verdade, o esgoto cai dentro do rio, um rio que tem de água. Eu acho que porque também eles não lembram da gente, né. Falam, Falam e não liga pras comunidades que necessitam mais. Quem tem criança lá, fica com verme, doenças, sabe… Eles não se importam com a gente muito.”

“Todos os dias eles desligam em torno das 21 horas e só volta 05 da manhã. Não dizem o motivo, só interrompem. Não vem explicação, né.”

“Não é só a falta de água… Quando volta a água, a pressão do cano vem, vem estourando tudo, né. Estoura chuveiro, estoura torneira e isso é com frequência, não é uma vez ou outra.”

O morador Joel tem 36 anos, se declarou homem, cor parda, autônomo e solteiro. Nasceu na cidade de São Paulo e vive no Jardim Wilma Flor desde então. Atua na associação de moradores local. Assim como a liderança entrevistada, vive numa área antiga do bairro, onde há infraestrutura de saneamento da Sabesp. No entanto, o serviço deixa de ser fornecido todas as noites, o que obriga o morador a ter que se organizar para realizar tarefas domésticas, como lavar roupa, tomar banho, na parte da manhã.

A moradora Taiane possui 35 anos, é mulher, solteira e do lar.  Nasceu na cidade de São Paulo e vive na ocupação Luiz Rubino. Depois de sofrer um despejo na zona sul da capital, ela se dirigiu para a comunidade do Wilma Flor, há mais de 10 anos. Uma das justificativa dessa alternativa foi a falta de recursos para pagar aluguel e outros serviços básicos, como água e luz. A moradora consegue água ou por meio de ligações informais a partir da rede pública da Sabesp, ou de um poço de três metros cavado no interior de sua cozinha. Afirmou, que o poço possui bastante volume, o que permite encher até duas caixas de 500 litros e emprestá-la para os vizinhos.

“Quando eu cheguei aqui era muito difícil. Não tinha ponte, menina, só faltava cair dentro do rio.”

“A gente quer o endereço, a gente quer água potável vindo, nós quer uma, como é que chama isso, comprovante de endereço, né. Ter um nome, a gente quer ter um nome, ter água e luz, né.” 

O Jardim Wilma Flor faz parte da região de Guaianazes, na Zona Leste de São Paulo. O bairro começou a ser ocupado há aproximadamente 40 anos, onde o Conjunto Habitacional Casa Branca, um dos mais antigos da região, conta com cerca de 1.750 famílias. Na área do entorno da rua Wilma Flor vivem aproximadamente 3.500 famílias e ainda existem as ocupações recentes, a exemplo das ruas Luiz Rubino e Vista Alegre.

Em relação a infraestrutura, existe uma sobreposição de condições materiais de acesso à água no Jardim Wilma Flor. Na parte central do bairro há rede de água e de esgoto. Os moradores afirmaram que o serviço é gerido pela Sabesp. Nas ocupações marginais, ao contrário, não há infraestrutura de saneamento básico e muitas ruas não possuem pavimentação. Mesmo nas áreas mais estruturadas, contudo, o abastecimento é interrompido diariamente, sempre durante a noite. 

Os principais problemas do Jardim Wilma Flor iniciam no risco de despejo de algumas comunidades, passando pela falta d’água, desabastecimento e interrupção diária do serviço de abastecimento. Nas áreas onde há infraestrutura, a água é cortada todas as noites, obrigando seu armazenamento em caixas d’água e cisternas. Porém, nem todos os moradores possuem essas estruturas em suas casas. Além disso, nas localidades periféricas do bairro, os moradores são obrigados a coletar água por mangueiras e por meio de baldes a partir das redes oficias de abastecimento ou pela compra de galões para consumo próprio. 

As estratégias para garantir água são diversas. O armazenamento é a mais comum delas. Os moradores recorrem ao uso de baldes, de reservatórios e de caixas d’água. Nas comunidades Wilma Flor, Vista Alegre e Luiz Rubino, contudo, os moradores compraram mangueiras e fizeram uma ligação na rede pública da Sabesp que atende a outra quadra do bairro. Alguns relatos indicaram, ainda, a necessidade de buscar por água em outros bairros da cidade, o que leva a um movimento diário de galões de água para o consumo familiar básico.

Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre