Fazendinha, Distrito Brasilândia, Subprefeitura Freguesia do Ó/Brasilândia

Liderança Cláudia, 41 anos, negra e desempregada. Vive na Fazendinha há 15 anos e desde que chegou atua como liderança. Seu envolvimento com o movimento começou quando comprou um terreno na comunidade, descobriu que era irregular e ao procurar se informar como poderia resolver a situação, foi lhe apresentado o movimento de moradia. O maior problema na comunidade, além da falta de infraestrutura formal, é causado pela dificuldade de gestão da rede informal. Quando novos moradores engatam as suas mangueiras, o sistema literalmente estoura e interrompe o abastecimento de pelo menos 30 famílias.  D. Claudia acredita que, a solução para este problema é a instalação da rede de abastecimento formal e relógios individuais de controle de consumo de água. 

“Em tempo de chuva, as coisas não têm condições e mistura esgoto com água fluvial, e fica aquela coisa terrível para a gente passar. E pavimentação, porque a gente não tem asfalto, não tem endereço, não tem um reconhecimento.”

Sobre o abastecimento de água não ser regular diz: “Não. Porque não entrou, não pode entrar a Sabesp. Eles não dão uma explicação.”

Moradora Regina, nascida em São Paulo – SP, tem 35 anos, parda, divorciada, mora com mais 3 pessoas e trabalha como auxiliar de limpeza. Comprou a casa na Fazendinha há 10 anos para sair do aluguel. Tem banheiro dentro da moradia, com vaso sanitário, chuveiro e pia com água corrente, mas não tem caixa d’água. Todo o encanamento da moradia é ligado direto nas mangueiras.

Moradora Lúcia, 32 anos, negra, nascida em São Paulo – SP, mora com 7 pessoas e trabalha “do lar”. Chegou na Fazendinha há 15 anos por contato da mãe que comprou um terreno na comunidade. Antes pagava aluguel e queria ter sua casa própria. Não tem caixa d’água e armazena água em garrafas. Tem banheiro dentro da moradia com água corrente no chuveiro e vaso sanitário, mas não tem pia. Toma banho de chuveiro e apenas usa balde quando falta água e pega com a vizinha que tem caixa.

Relata que fica sem água “Porque quebra mangueira, os outros cortam a mangueira, os outros leva sua mangueira embora, quando a Sabesp limpa o rio que corta as mangueiras. Essa é a nossa vida na Fazendinha.”

“Porque se uma pessoa sem água, você não consegue fazer comida, sem comida você tem baixa imunidade; você não consegue higienização, se você não consegue higienização qualquer lugar você consegue se contaminar; se você se contamina e não se limpa, não tem meios para se higienizar depois disso, para você contaminar com o vírus e depois repassar isso para outra pessoa fica muito, muito, mais fácil, entendeu?”

Morador Alberto, 20 anos, negro, solteiro, de São Paulo-SP e trabalha com vendas. Mora com 6 pessoas e está há 5 anos na comunidade. Teve que sair rapidamente da casa anterior em que pagava aluguel e a Fazendinha foi a solução mais imediata que conseguiu. Sua casa tem banheiro com vaso sanitário e chuveiro com água corrente, mas não tem pia, usa o tanque que fica do lado de fora. Não tem caixa d’água e armazena água em garrafas, para não faltar para as crianças, fazer comida e lavar a louça. O chuveiro elétrico queima muito, a energia também é gato e a rede não suporta, então toma banho de balde e canequinha.

A comunidade Fazendinha está localizada no bairro Jardim Vista Alegre, no extremo norte da capital paulista e faz limite com o Parque Estadual da Cantareira. Suas casas situam-se ao longo do Córrego Bananal. Esta comunidade existe há 16 anos onde hoje vivem aproximadamente 1200 famílias, totalizando 5 mil pessoas. As moradias variam entre alvenaria e tijolos sem reboco, algumas são barracos de madeira e outras são barracos de lona. Não há associações dos moradores e toda a assistência que os moradores recebem é por parte do movimento de moradia.

A água se tornou uma reivindicação da comunidade em 2005, uma vez que a fonte de abastecimento era uma bica, com água muito suja e sem tratamento. Com organização e união dos moradores, conseguiram o fornecimento do ponto atual, mas que é ainda informal. O motivo da não regularização deste ponto de água pela empresa de abastecimento é desconhecido pelos moradores. Não há saneamento básico, o esgoto é a céu aberto e conduzido direto para o córrego. A ocupação é a única parte do bairro sem água regularizada.

A falta de abastecimento formal e regular de água levou à construção de uma rede informal, de distribuição frágil, formada por mangueiras. Quando novas ligações são efetuadas sem controle, o sistema entra em colapso e interrompe a chegada de água para as famílias abastecidas pela rede informal. Tais situações levam a conflitos entre moradores. Isso gera conflitos entre os moradores.

O abastecimento informal de água também é interrompido quando as mangueiras são retiradas pela prestadora de serviços de abastecimento ao realizar a limpeza do rio. Quando isso acontece, o abastecimento de água na comunidade toda é afetado e dificulta as tarefas domésticas e de cuidado das crianças. Como a maioria das casas não possuem caixa d’água, nos momentos de ausência de água, as famílias se ajudam emprestando água. A solidariedade entre os vizinhos é muito presente.

As casas apresentam banheiro com vaso sanitário, chuveiro e pia, porém a água vem de uma única fonte informal, que não supre a necessidade de todas as famílias. Por isso, os moradores da Fazendinha reivindicam a infraestrutura de saneamento básico, pavimentação, endereço fixo e abastecimento de água direto regularizada e com relógio em cada moradia. 

Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre