Emburá /Jardim São Pedro, Distrito Marsilac, Subprefeitura Parelheiros

A liderança Sr. Paulo possui 53 anos, se declarou homem, pardo e disse trabalhar como jardineiro. Vive na comunidade há 15 anos. Pouco tempo depois de se mudar para o Emburá começou a atuar na associação de moradores, há 10 anos. De acordo com a liderança, as principais reivindicações do Jardim São Pedro são as lutas por acesso à água, luz e pavimentação das ruas.

“Desde sempre a água é uma demanda, porque a gente tem dificuldade em conseguir água. Quando chove a gente tem água da mina. Quando faz calor, a água da mina falta.”

“No momento eles (prefeitura) estão lá, uma vez ou outra trazendo um carro-pipa de água (…). A gente correu atrás, né. Aí um rapaz conseguiu esses carro-pipa para poder tá trazendo para cá.”

“Os órgãos (públicos) não querem colocar água aqui. Lutar, a gente tem lutado muito.” 

“Antigamente comprava. Agora com poço, bebo água dele mesmo.”

O morador Seu João possui 84 anos, se declarou homem, pardo, casado e aposentado. Nasceu na cidade de Itapetim, Pernambuco. Chegou em São Paulo há 35 anos. Vive no Emburá há 22 anos, onde atua como conselheiro na associação de moradores local. No início, assim como a maioria dos moradores da comunidade, fazia uso da mina d’água. Porém, devido ao seu volume irregular, acabou cavando um poço. Além disso, sua casa possui duas caixas d’água de 500 litros cada.

Dona Fátima tem 55 anos, se declarou mulher, parda e casada. Trabalha como dona de casa. Nasceu na cidade de Desterro, Paraíba. Chegou na cidade de São Paulo em 1985. Mora no Emburá há 23 anos. Utiliza-se de uma bomba hidráulica para puxar água da mina durante a madrugada. Além disso, gasta em média R$40 reais com água mineral por mês para consumo familiar.

“Aqui foi o único lugar que a gente conseguiu ter condições para comprar o terreno.”

“Eles falam não tem água aqui por causa da Cetesb. A Sabesp queria, mas é por causa da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Acho que é porque é área de mananciais, né”

“Esgoto? Só Deus sabe…no mato, aí…”

“Eu fiquei sem tomar banho… Não vou mentir… Eu sei que fiquei umas três vezes sem ter água na caixa… Não vou mentir.”

Joana possui 49 anos, é mulher, parda, solteira e dona de casa. Nasceu em Itapetim, Pernambuco. Chegou em São Paulo há mais de 20 anos. Vive no Jardim São Pedro desde então. Assim como os demais moradores coleta água da mina por meio de bomba. No caso do esgoto, afirmou que ele é lançado diretamente nas áreas de mata do entorno.

A moradora Maria tem 56 anos, é mulher, parda, dona de casa e casada. Nasceu em Desterro, Paraíba. Chegou a São Paulo em 1986. Mora no Emburá há 22 anos. Também confirmou usar água da mina, mas ressaltou que durante o período de pandemia um carro pipa vem sendo oferecido para a comunidade. Além de uma caixa de mil litros, possui um tambor como reservatório adicional.

“Faz 22 anos que eu vim morar aqui. Porque a gente não tinha condições de morar em outro lugar, né.”

“As mangueiras para vir… A gente usa mangueira pra trazer da mina e para colocar na caixa…”.

“essa água que nós conseguimos é proveniente de uma mina que nós temos aqui na comunidade… e para chegar na nossa casa é através de uma sucção, é através de uma bomba”

“vou ser bem honesta. Eu consegui tomar (banho) porque eu fui para casa do meu namorado. Porque lá tem ele saneamento, tem água encanada… Mas pessoas da minha família já ficaram sem tomar banho, sim.”

A moradora Flavia possui 30 anos e é técnica administrativa. Nasceu na cidade de São Paulo e mora no Jardim São Pedro há mais de 20 anos. Atua na associação de moradores na parte de secretaria. Sua casa não possui ligação com redes de água, somente o sistema da mina. Além da caixa d´água de mil litros, utiliza baldes de vários tamanhos para armazená-la. Todo mês é obrigada a comprar água para beber.

A comunidade Emburá (Jardim São Pedro ou Vila São Pedro) está localizada no distrito de Marsilac, extremo sul da capital paulista. O bairro está inserido na Bacia do Guarapiranga, região ambientalmente protegida por leis estaduais de Proteção e Recuperação de Mananciais (APRM). O loteamento existe desde 1991 e possui aproximadamente 5 mil famílias e mil domicílios, conforme informações do cadastro da Unidade Básica de Saúde (UBS) local. A maior parte desses domicílios está localizada nas margens de uma estrada que interliga o distrito de Marsilac ao centro da capital paulista.

No caso da infraestrutura de saneamento, não há redes públicas de água e de esgoto na comunidade. As conexões no Jardim São Pedro são feitas de ligações improvisadas, que formam um pequeno sistema com tubulações, uma bomba hidráulica e mangueiras que extraem água de uma mina d’água (nascente) situada na região. 

Os principais problemas socioambientais da localidade se relacionam à condição material da moradia e a falta de acesso à água e ao esgotamento sanitário. Há uma convivência entre domicílios de alvenaria ao lado de casas feitas de madeira e taipa.  A disponibilidade de água está condicionada aos períodos de chuvas e secas, que impactam em maior ou menor volume de água da mina disponível. Em relação ao esgotamento sanitário, além de não existir rede pública, os moradores fazem uso de tubulações próprias que transportam os dejetos, despejando-os nas áreas de mata do entorno.

Entre as estratégias apresentadas para garantir o acesso à água estão o uso e compartilhamento de poços entre vizinhos, a existência de redes alternativas de água e um sistema de extração de água das minas são as práticas mais utilizadas no Emburá. É comum também, durante a madrugada,  “puxar” água da rua, que é abastecida por minas de água e que permite encher a caixa d’água com maior velocidade. No caso do consumo de água para beber, os moradores compram água mineral em galões no próprio comércio local. 

Fotos: Marilene Ribeiro de Souza e Sheila Cristiane Santos Nobre